quarta-feira, junho 20, 2007

Quando ele disse pela primeira vez que eu era canalha, minha única razão foi sorrir.
Apenas duas horas e vinte e seis minutos depois de ter deixado a cama, foi quando percebi o quanto consegui levantar e tentar entender.
Mas, oras, isso faz mais de anos; nesta época eu ainda observava a eterna luta entre meus sentimentos de pureza e os de libertinagem. Eu fui uma exímia adolescente, nos meus 15 anos.

Quando eu ia para Ribeirão Preto ficar na Ana Amélia, encontrava-me com Beto; o irmão mais velho.
Já sei bem muito do caso, mas foi minha melhor fase tanto musical quanto cinematográfica. A Ana nunca ficava tanto em casa quando Beto estava por lá ao mesmo tempo que eu; ficávamos, portanto, na grande maioria das vezes, sozinhos.

O quarto dele sempre foi escuro, e eu sempre achei que era culpa das cortinas meio, marrons. 'Péssimo gosto, Beto'. Mas, de resto, era tudo meio colorido, com todos aqueles cedês e vinis, e partituras de saxofone e livros espalhos por baixo da cama junto com os cinzeiros [ele fazia coleção], no carpet.
Mas a cama, ah a cama; era coberta pelo branco mais branco. Tanto os lençóis quanto o edredon e qualquer outro cobertor. Acho que Beto fazia questão de se limpar nela.

Lembro-me da primeira vez em que pude sentar nela, após Beto insistir que nos beijássemos no chão. Acho que era apaixonada pelas esquisitices e ele, por minhas pernas. Achava divertido, claro, o fato de rolarmos entre livros. Até que, um dia, ele puxou minhas pernas até a cama e disse 'sobe'.
Fazia parte de que diabos de ritual? E o que eu achava daquilo tudo? Estranho.

Aquele dia foi uma das minhas quase-primeiras-vezes. Quando ele se deu conta do que ia acontecer, sento, acendeu um cigarro e, calmamente disse: 'você é uma canalha'. Tirei minhas meias e cruzei as pernas, sorrindo. 'Que é, Roberto?'.

Achei, desde então, que ele votou pela castidade. Conversava horas ao telefone todas as madrugadas comentando coisas do tipo; Beto resmungava algo e ria, 'eu adoro suas neuroses'. Neurose, que absurdo.

Parar com Beto. Parar de olhar para o papelzinho com o número.
'Recomponha-se.'


Enfim; eu gostava tanto que ele tinha paciência e não cansava nunca.

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