domingo, setembro 13, 2009

Ah.
Eu resolvi soltar o freio de mão.
É me apaixonar novamente e tentando me livrar dos medos e das aflições e das angústias. E tentando dissolver os medos e aflições e angústias dele.

Fazia tanto tempo que eu não queria tanto dar meu tempo para uma pessoa.
No fundo, ainda tenho certa apreensão de me ver tão próxima do chão, onde eu cai com tanta força. Medo que o Bruno não queira entrar nisso.



Mas ah. Não posso negar.
A sensação é tão boa.

terça-feira, setembro 01, 2009

estado laico my ass.

Eu estava zapeando pelos canais da televisão quando resolvi parar na MTV e ver qual era o assunto do debate que passe por aí, às terças-feiras.
Acontece que o assunto discutido era o acordo entre o Brasil e o Vaticano que prevê a instituição do Ensino Religioso facultativo [?] no Ensino Fundamental nas escolas públicas [o acordo prevê mais um monte de coisa, que listarei aqui depois].

Identifiquei-me prontamente.

Dos 6 aos 14, estudei em colégio de padre. Com missa em dias especiais, velório de padres que morriam e, principalmente, Ensino Religioso obrigatório. Não foi uma escolha minha entrar para um desses colégios, friso. Escolha dos meus pais pelo resto das disciplinas serem ensinadas com bons métodos [régua na mão e ajoelhar no milho. brimqs hahaha].
Eram aulas estranhas. Da primeira até a 7ª série, escrevíamos orações, víamos filmes de Jesus e líamos coisas sobre aquela formiga torta, o Smilinguido.
Na 8ª série, entretanto, entrou um professor novo. O tal do Eugênio tinha tendências pedófilas, claro. Mas era muito de filosofia e sociologia, nomes [e métodos e currículos] que deveriam ser os usados para essa matéria.
Bom. No fim, fiquei de recuperação dessa matéria e me rebelei contra esses princípios doidos religiosos.

Acontece que crianças entre a 1ª e a 8ª série não tem discernimento [bom, acredito] para escolherem, ou saberem analisar por si só se devem ou não fazer a matéria. A moral que permanece vem das famílias.
Uma escola, um sistema educacional deveria fortalecer o ser pensante por si, o ser crítico. [ah doce utopia]. Uma criança de 13 anos vê seus colegas todos assistindo à aula. O que será? Ou, se uma criança tem família de ateus. 'Vai começar a aula de Ensino Religioso. Você, Zeca, pode se retirar'. Sabem?

E outra coisa. Não há o currículo da disciplina. O que vai ser ensinado? Vão tomar base no catoliscismo? Vai tomar caráter filosófico como andam dizendo por aí? E, aliás, como uma criança do Ensino Fundamental vai entrar em temáticas tão profundas, que são larga e dificilmente debatidas em universidades?

Só sei uma coisa. Estado laico my ass.



Outros pontos do acordo Brasil + Vaticano:
01. Isenção fiscal
02. Imunidade das instituições religiosas perante as leis trabalhistas
03. Manutenção, com recursos do Estado, de propriedades, bibliotecas e acervos da igreja católica


Ah. E olhem o artigo primeiro do acordo:
O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação, afirma.


católico.

domingo, agosto 30, 2009

Muita gente sabe que eu passei um tempo fora depois do meu break down pós-Raphael.
E grande parte desse tempo fora, passei dentro de um lugar. Longe de tudo, e perto dele.
Ele, de quem falo, se chama Tom. [há um post por aí narrando como o conheci, perto do Canil, lá na ECA].
O que é de real relevância dizer é que ele estava do meu lado naquele final de semana perdido, em que eu chorava, dormia, chorava e dormia constantemente.
Fugimos um do outro depois de tudo, e nem soubemos direito o por quê. Só precisávamos nos distanciar.

Um reencontro e tudo o que eu tinha aqui dentro sobre ele voltou.
Eu me lembrei de ser apaixonada. Perdi as linhas de pensamento. Perdi as pernas com o tom da voz dele, com o sorriso desconcertante e com 'Vienna' do Billy Joel tocando ao fundo.

Tom voltou e eu consegui esconder minhas cicatrizes que andavam tão sendo cutucadas com uma grande tatuagem em forma de desconhecido.


Slow down, you're doing fine.

sexta-feira, agosto 28, 2009

da insônia a claridade.

Fazia mais de um mês que ele não dormia.
O estranho era que ele sempre tinha tido certa facilidade para dormir. Era encostar o corpo em algum lugar e em poucos minutos tudo se apagava.
As razões para os primeiros dias de insônia foram encontradas no estresse. São muitas horas de trabalho, muito tempo no trânsito, muitas preocupações.
Quando uma semana de noites em claro se completou, uma leve inquietação começou a surgir. Era uma má fase, claro.
Duas semanas, três semanas, um mês. A idéia de ter que se deitar em sua cama todas as noites dava a ele um nervosismo violento. Durante o dia, não conseguia mais trabalhar direito, sua concentração se perdia em qualquer atividade com a perspectiva de ter que passar mais uma noite em claro.

Ele percebeu que não se sentia cansado com um estalo. Não havia olheiras sob seus olhos, não havia dores no corpo. Nas primeiras horas após a constatação, ele se sentiu perdido, se perguntando incessantemente por quê. Buscou ajuda médica, em pesquisas, consultou conhecidos, amigos, família. Nada. Não havia nada que explicasse a insônia e a falta de cansaço.

Uma noite, ao chegar em casa do trabalho, não foi se deitar. Caminhou pela casa e ouviu um barulho vindo da cozinha. Acendeu a luz e buscou de onde poderia ter vindo aquele som. Levou um susto ao olhar para cima e perceber que havia um pequeno buraco, do qual se podia ver o espaço que existe entre teto e telhado.

Subiu na mesa e tentou olhar através do buraco. Desceu, pegou um martelo e começou a aumentar o buraco. Ao terminar, limpou a camada de pó do rosto e se apoiou para subir.
Percebeu que havia uma pessoa sentada ali, um velho.

Alarmado, perguntou ao senhor se ele precisava de ajuda, o que ele fazia lá. O velho sorriu e entregou a ele um caderno. 'Você tem nas mãos o tempo. Use-o o quanto puder'.
Ao tirar os olhos do caderno, o velho não estava mais lá. Procurou pelos cantos mas nenhum sinal daquele estranho senhor.

Sentou-se e olhou para o caderno. Folheou-o e todas as páginas estavam em branco. Jogou o caderno ao seu lado, enraivecido a pensar no último mês, na falta de explicações.

Olhou para o lado, para a capa verde-escura do caderno. Pegou-o com a mão direita. Um lampejo de entendimento veio a seus olhos e ele começou a rir. E compreendeu.

Viu através das frestas do telhado a luz da manhã entrando.
Tinha todo o tempo livre do mundo.

quinta-feira, agosto 27, 2009

'O primeiro mérito de uma teoria crítica exata é fazer parecerem ridículas, de imediato, todas as demais. (...) Além disso, uma teoria concebida com a finalidade de se tornar geral deve evitar aparecer como visivelmente falsa; logo, não se deve expor ao risco de ser desmentida pela sequência dos fatos. Mas também é preciso que seja uma teoria perfeitamente indadmissível. Que ela possa declarar mau, diante das estupefação indignada de todos que o acham bom, o próprio âmago do mundo existente, do qual ela descobriu a natureza exata. A teoria do espetáculo satisfaz a essas exigências'.

Guy Debord. Você é (era) um gênio.
Andei lendo sobre neurologia para o meu Trabalho de Conclusão de Curso.
Acontece que meu lado leigo no assunto cria um medinho meio chato dentro.
É aquela sensação de pisar em ovos, cuidado para não dizer nada errado, para não pagar de quem quis usar para fazer média com a banca.
Viu.
Entender?
Pra quê?

quarta-feira, agosto 26, 2009

Eu não soube como lidar com ele.
Eu nunca soube relacionamentos.
Culpo a tensão, claro. Apesar do atraso.

Eu não quero mais.


hm. eu já fui de escrever melhor.

terça-feira, agosto 25, 2009

Eu tenho uma mania meio chata de reler coisas que considero 'do passado'.
E-mails, cartas, arquivos e blogs antigos.
Às vezes serve para remoer sentimentos doloridos e bem guarados, às vezes serve para matar uma saudade. Mas na maior parte do tempo, serve para saber do que sou formada.
Eu acredito que é disso, sinceramente. Na verdade, passei a acreditar que é de pequenas conversas que eu sou feita, pelo menos 2/3 do que eu sou. Pequenas ou grandes linhas de pensamento.

O ponto mais estranho, porém, é que tudo é tão fragmentado. Eu normalmente perco as linhas, me falta entender os desenvolvimentos. A dificuldade está sempre em saber como os cantos se ligam.

Disso tudo? Tem tantos faltando.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Na semana passada, enquanto eu estava passeando pela minha cidade natal, minha mãe reclamou sobre eu ficar impressionada demais com os filmes que assisto e livros que leio.
Neguei veementemente, disse que sabia muito bem como deixar determinado tempo pré-cronometrado de reflexão, e guardar essas informações meio fundo para apenas serem tiradas quando preciso.

Acontece que hoje eu assisti a um filme que parece ter provado o que ela disse.

Rainer Wenger é um professor que fica responsável por ministrar um curso de uma semana sobre Autocracia a uns alunos do Ensino Médio.
Diante da descrença dos alunos com a possibilidade que um governo ditatorial possui para emergir a qualquer época da humanidade, o professor resolve fazer uma experiência-limite.
Começando com ensino de postura e respiração correta, a experiência toma proporções, conforme passam os dias da semana, que vão além do controle do professor.
O uso de uniformes, a invenção de uma saudação, criação de um nome, de uma logomarca; tudo isso contribui para criar nos alunos a sensação de fazerem parte de um movimento que pode mudar a Alemanha.


Os limites da convivência com o que é diferente, com o que não faz parte da chamada 'A Onda' são testados. Começam ações de violência e exclusão, mais e mais jovens aderem ao movimento.

O filme chega a um final um bocado tenso, o qual eu não pretendo revelar.

'A Onda' é um filme baseado em uma experiência acadêmica real, de 1967, que tomou lugar em uma escola de uma cidade da Califórnia.
O nome do professor é Ron Jones e ele ministrava história.
O filme é bastante fiel à história real [apesar de passar na Alemanha, o que nos dá uma sensação de muito mais proximidade ao Nazismo], que foi publicada em livros e ensaios e é bastante boa para ser lida.

O professor Ron foi preso e proibido de dar aulas em escolas públicas.

O que mais me impressionou foi a facilidade com que um regime autoritário pode emergir a qualquer momento, em qualquer país. Fiquei pensando se o fato de serem alunos, e de eles serem muito mais abertos aos ensinamentos de outra pessoa [neste caso, potencializado pela figura de um professor] tenha tornado mais fácil a criação de um ambiente como aquele.
Ou se é o ser humano que tende a se agrupar e a agarrar o ideal de 'nacionalismo'.
Fica o questionamento sobre a maneira como o professor lidou com as noções de individualismo e sentimento de grupo.

Ao fim, vale a pena e se impressionar. A experiência traz uma abordagem psicológica do totalitarismo, bastante fundamental para entender um outro lado.






Quem quiser ler, clique aqui para ler o ensaio 'The Third Wave', do professor Ron Jones.

James Joyce safadão

Eudescobri que gosto muito de James Joyce.

É bem certo que, um dia na vida e seja lá qual for ele, você vai ouvir falar de James Joyce. Nem que seja saindo da boca de gente que diz que 'Ulysses' só serve para ser usado como apoio de mesa.
Mas todo mundo fica lá idealizando um cara e botando medo nas criança falando que o livro todo tem umas 1200 páginas contando um dia só na vida do Leopold Bloom.

Mas a minha descoberta está bem ligada ao fato que James Joyce tá bem mais dentro de você do que sonha sua vã filosofia. Pois tratem de colocar o cara no chão e aprender que o rapaz escrevia coisas que são para todo mundo entender, seja de que forma for.

E eu posso provar isso.

James Joyce era casado com uma mulher chamada Nora. Antes de eles se casarem, passaram muitos anos separados, vendo-se ocasionalmente como quase todo namoro de 1800 e alguma coisa. E como todo casal da época, eles se correspondiam por cartas. E é aí que James Joyce está bem mais perto de você, jovem com hormônios loucos, do que você imagina.

As cartas de James Joyce para Nora tinham, hm, certo tom erótico. Isso, erótico. Péra, erótico? Nada. Pornográfico mesmo. De baixo calão. Com muito sexo, fluídos corporais e tudo o que tinha direito.


Eu sou é maroto.

São cartas saudosistas de tempos em que, hm, Joyce podia ter sua mulher em seus braços. Ele relembra de momentos que estiveram juntos e deseja momentos futuros.

O interessante é que, deixando o lado pornográfico da coisa, tem muito de James Joyce naquelas cartas. Extremamente bem escritas, o leitor até chega a pensar que elas têm certo bom gosto.

Você pode muito bem começar a ler James Joyce pelas cartas que ele escrevia para sua mulher. Elas não estão publicadas em nenhum livro porque, por algum motivo, os netos têm certa vergonha. Mas você pode encontrá-las neste site aqui.

Dá para, de certa forma, sentir que Joyce era muito mais humano [e mais pervertido] do que as pessoas que nos põem medo em relação a ele dizem.

Depois dessa, ler 'Ulysses' vai ficar muito mais fácil.

quarta-feira, agosto 19, 2009

[para ler ouvindo 'love song' do elton john]


Os passos eram lentos, calmos. Quase arrastados, só não por medo de perder as sandálias.
Todo o mundo era visto pelo chão. Era por ele que ela sabia a vida. Seus pés, o chão e as complicações.

Ela aprendeu a entender os pés, a entender as calçadas, as folhas no chão, o caminhar das pessoas. Sabia de cor quantos passos de sua casa à casa de sua avó. Sabia como eram os desníveis das calçadas, as cores dos ladrilhos, a chuva pingando no chão.

Mas um dia, com um tênis furado, remendado por fita isolante prateada, ele parou na frente dela. Ela, que só sentia e não queria entender os por quês, nem ter que olhar para frente; só sabia ver o momento em que caminhava, só sabia entender o pedaço de chão em que pisava.

Ele a levou por lugares diferentes dos quais ela via. Um pouco de grama, um caminho de tijolos vermelhos, terra batida e caminhos bonitos. Ela se apaixonou e por muito tempo seguiu os passos dele e caminhou lado a lado.

Mas um dia, ele perguntou por que ela não olhava para frente, por que não via o futuro deles. Ela não sabia o que dizer, ela não sabia como não apreciar cada passo, entender cada passo, mergulhar em cada passo. E ele continuava a perguntar. E ela se sentia triste.

E ela cedeu. Neste dia, levantou a cabeça e olhou para frente. E nunca mais enxergou.
Ali, naquele bar a três quarteirões da minha casa em Batatais, fiquei pensando na dimensão tempo. Duas amigas de longa data sentadas comigo em uma mesa com cerveja sendo bebida a uma velocidade bem mais lenta que há três, quatro anos atrás.

A Emília e a Laíza eu conheço muito bem. São grandes amigas minhas, desde épocas em que lançavam filmes em vídeo e vinis eram top.

mas. O que fez tudo isso durar tanto tempo? Era aquilo que eu defendia?; que a sensação de familiaridade, de bem estar, faz com que determinadas pessoas sejam mantidas em nosso círculo de amizades? Que elas se tornam tão reconhecíveis que partir para novas companhias traz aquela sensação de desconforto que só as novidades sabem como nos dar?

Pensei em tudo o que aconteceu. De como eu quebrei meu braço esquerdo para não deixar a Emília bater a cabeça no chão em uma queda de cavalo. Pensei em como o Théo traiu a Laíza comigo, em meados de 2004.

São raras as pessoas que eu deixei ficar na minha vida, ou mesmo que realmente quiseram ficar por aqui. Eu nunca soube, na verdade, manter uma amizade. Deve ser porque elas também nunca souberam muito bem fazê-lo que nos damos tão bem. As nossas regras de relacionamento são mais simples que as dos outros.

Encostei na cadeira e sorri. Pensei no quanto era sortuda com aquelas duas. E resolvi marcar no blog só uma brincadeira para que eu não me esquecesse dessa facilidade que eu tenho lá em Batatais.

domingo, agosto 16, 2009

Eu nasci na época errada, não é possível.

A sensação de ter o cabelo todo errado pra 2009 é o que aparece primeiro quando eu fico irritada com esse assunto.
Logo depois, vem o que predomina no meu acervo musical. Eu até sei o que é Rhianna e Ja Rule. Mas não me peça pra diferenciar o estilo musical de cada cantor de hoje.
O terceiro ponto é tosco-fashionista. Calça baixa pra mim é lixo. E não é por ser gordinha não.

Na verdade, isso dá margem para uma velha inquietação minha: tá acontecendo muita coisa estranha.
Eu fico pensando se vai acontecer o mesmo que aconteceu com os anos 90 para mim. Que agora eu acho No Doubt e Joan Orborne clássicos. E sei muito bem entender o que aconteceu na época, entre meus 3 e 12 anos de idade.
Hm. Então obviamente a resposta é que ficamos perdidos no nosso tempo. Period.
Ou somos nós, os jovens, que vemos tudo de perto e ficamos meio balançados com tudo.
Mas se formos pensar de verdade, tinha tanta gente há 40 anos atrás, bem no Woodstock, que sabia o que estava acontecendo direitinho. Bem que tudo aquilo ia ser projetado pra longe.

Será que em 2020 eu vou olhar para 2000 e compreender o que acontecia? [não que eu vá achar que Rhianna e Ja Rule são clássicos, porque eu mesma bato o pé de verdade para música.] Será que é essa a causa da minha irritação? Que eu, não conseguindo entender, fico puta e odeio essas coisas; escolhendo uma década que eu acho certa para mim de acordo com o estilo de vida que eu escolhi seguir?

Mas, ao fim, eu tenho certeza que, se tivesse vivido meus 21 anos em 70, eu seria exatamente como eu sou hoje. Somando uma leve dose de confusão interna.