Fazia mais de um mês que ele não dormia.
O estranho era que ele sempre tinha tido certa facilidade para dormir. Era encostar o corpo em algum lugar e em poucos minutos tudo se apagava.
As razões para os primeiros dias de insônia foram encontradas no estresse. São muitas horas de trabalho, muito tempo no trânsito, muitas preocupações.
Quando uma semana de noites em claro se completou, uma leve inquietação começou a surgir. Era uma má fase, claro.
Duas semanas, três semanas, um mês. A idéia de ter que se deitar em sua cama todas as noites dava a ele um nervosismo violento. Durante o dia, não conseguia mais trabalhar direito, sua concentração se perdia em qualquer atividade com a perspectiva de ter que passar mais uma noite em claro.
Ele percebeu que não se sentia cansado com um estalo. Não havia olheiras sob seus olhos, não havia dores no corpo. Nas primeiras horas após a constatação, ele se sentiu perdido, se perguntando incessantemente por quê. Buscou ajuda médica, em pesquisas, consultou conhecidos, amigos, família. Nada. Não havia nada que explicasse a insônia e a falta de cansaço.
Uma noite, ao chegar em casa do trabalho, não foi se deitar. Caminhou pela casa e ouviu um barulho vindo da cozinha. Acendeu a luz e buscou de onde poderia ter vindo aquele som. Levou um susto ao olhar para cima e perceber que havia um pequeno buraco, do qual se podia ver o espaço que existe entre teto e telhado.
Subiu na mesa e tentou olhar através do buraco. Desceu, pegou um martelo e começou a aumentar o buraco. Ao terminar, limpou a camada de pó do rosto e se apoiou para subir.
Percebeu que havia uma pessoa sentada ali, um velho.
Alarmado, perguntou ao senhor se ele precisava de ajuda, o que ele fazia lá. O velho sorriu e entregou a ele um caderno. 'Você tem nas mãos o tempo. Use-o o quanto puder'.
Ao tirar os olhos do caderno, o velho não estava mais lá. Procurou pelos cantos mas nenhum sinal daquele estranho senhor.
Sentou-se e olhou para o caderno. Folheou-o e todas as páginas estavam em branco. Jogou o caderno ao seu lado, enraivecido a pensar no último mês, na falta de explicações.
Olhou para o lado, para a capa verde-escura do caderno. Pegou-o com a mão direita. Um lampejo de entendimento veio a seus olhos e ele começou a rir. E compreendeu.
Viu através das frestas do telhado a luz da manhã entrando.
Tinha todo o tempo livre do mundo.
sexta-feira, agosto 28, 2009
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