Todo o mundo era visto pelo chão. Era por ele que ela sabia a vida. Seus pés, o chão e as complicações.
Ela aprendeu a entender os pés, a entender as calçadas, as folhas no chão, o caminhar das pessoas. Sabia de cor quantos passos de sua casa à casa de sua avó. Sabia como eram os desníveis das calçadas, as cores dos ladrilhos, a chuva pingando no chão.
Mas um dia, com um tênis furado, remendado por fita isolante prateada, ele parou na frente dela. Ela, que só sentia e não queria entender os por quês, nem ter que olhar para frente; só sabia ver o momento em que caminhava, só sabia entender o pedaço de chão em que pisava.
Ele a levou por lugares diferentes dos quais ela via. Um pouco de grama, um caminho de tijolos vermelhos, terra batida e caminhos bonitos. Ela se apaixonou e por muito tempo seguiu os passos dele e caminhou lado a lado.
Mas um dia, ele perguntou por que ela não olhava para frente, por que não via o futuro deles. Ela não sabia o que dizer, ela não sabia como não apreciar cada passo, entender cada passo, mergulhar em cada passo. E ele continuava a perguntar. E ela se sentia triste.
E ela cedeu. Neste dia, levantou a cabeça e olhou para frente. E nunca mais enxergou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário