domingo, agosto 30, 2009

Muita gente sabe que eu passei um tempo fora depois do meu break down pós-Raphael.
E grande parte desse tempo fora, passei dentro de um lugar. Longe de tudo, e perto dele.
Ele, de quem falo, se chama Tom. [há um post por aí narrando como o conheci, perto do Canil, lá na ECA].
O que é de real relevância dizer é que ele estava do meu lado naquele final de semana perdido, em que eu chorava, dormia, chorava e dormia constantemente.
Fugimos um do outro depois de tudo, e nem soubemos direito o por quê. Só precisávamos nos distanciar.

Um reencontro e tudo o que eu tinha aqui dentro sobre ele voltou.
Eu me lembrei de ser apaixonada. Perdi as linhas de pensamento. Perdi as pernas com o tom da voz dele, com o sorriso desconcertante e com 'Vienna' do Billy Joel tocando ao fundo.

Tom voltou e eu consegui esconder minhas cicatrizes que andavam tão sendo cutucadas com uma grande tatuagem em forma de desconhecido.


Slow down, you're doing fine.

sexta-feira, agosto 28, 2009

da insônia a claridade.

Fazia mais de um mês que ele não dormia.
O estranho era que ele sempre tinha tido certa facilidade para dormir. Era encostar o corpo em algum lugar e em poucos minutos tudo se apagava.
As razões para os primeiros dias de insônia foram encontradas no estresse. São muitas horas de trabalho, muito tempo no trânsito, muitas preocupações.
Quando uma semana de noites em claro se completou, uma leve inquietação começou a surgir. Era uma má fase, claro.
Duas semanas, três semanas, um mês. A idéia de ter que se deitar em sua cama todas as noites dava a ele um nervosismo violento. Durante o dia, não conseguia mais trabalhar direito, sua concentração se perdia em qualquer atividade com a perspectiva de ter que passar mais uma noite em claro.

Ele percebeu que não se sentia cansado com um estalo. Não havia olheiras sob seus olhos, não havia dores no corpo. Nas primeiras horas após a constatação, ele se sentiu perdido, se perguntando incessantemente por quê. Buscou ajuda médica, em pesquisas, consultou conhecidos, amigos, família. Nada. Não havia nada que explicasse a insônia e a falta de cansaço.

Uma noite, ao chegar em casa do trabalho, não foi se deitar. Caminhou pela casa e ouviu um barulho vindo da cozinha. Acendeu a luz e buscou de onde poderia ter vindo aquele som. Levou um susto ao olhar para cima e perceber que havia um pequeno buraco, do qual se podia ver o espaço que existe entre teto e telhado.

Subiu na mesa e tentou olhar através do buraco. Desceu, pegou um martelo e começou a aumentar o buraco. Ao terminar, limpou a camada de pó do rosto e se apoiou para subir.
Percebeu que havia uma pessoa sentada ali, um velho.

Alarmado, perguntou ao senhor se ele precisava de ajuda, o que ele fazia lá. O velho sorriu e entregou a ele um caderno. 'Você tem nas mãos o tempo. Use-o o quanto puder'.
Ao tirar os olhos do caderno, o velho não estava mais lá. Procurou pelos cantos mas nenhum sinal daquele estranho senhor.

Sentou-se e olhou para o caderno. Folheou-o e todas as páginas estavam em branco. Jogou o caderno ao seu lado, enraivecido a pensar no último mês, na falta de explicações.

Olhou para o lado, para a capa verde-escura do caderno. Pegou-o com a mão direita. Um lampejo de entendimento veio a seus olhos e ele começou a rir. E compreendeu.

Viu através das frestas do telhado a luz da manhã entrando.
Tinha todo o tempo livre do mundo.

quinta-feira, agosto 27, 2009

'O primeiro mérito de uma teoria crítica exata é fazer parecerem ridículas, de imediato, todas as demais. (...) Além disso, uma teoria concebida com a finalidade de se tornar geral deve evitar aparecer como visivelmente falsa; logo, não se deve expor ao risco de ser desmentida pela sequência dos fatos. Mas também é preciso que seja uma teoria perfeitamente indadmissível. Que ela possa declarar mau, diante das estupefação indignada de todos que o acham bom, o próprio âmago do mundo existente, do qual ela descobriu a natureza exata. A teoria do espetáculo satisfaz a essas exigências'.

Guy Debord. Você é (era) um gênio.
Andei lendo sobre neurologia para o meu Trabalho de Conclusão de Curso.
Acontece que meu lado leigo no assunto cria um medinho meio chato dentro.
É aquela sensação de pisar em ovos, cuidado para não dizer nada errado, para não pagar de quem quis usar para fazer média com a banca.
Viu.
Entender?
Pra quê?

quarta-feira, agosto 26, 2009

Eu não soube como lidar com ele.
Eu nunca soube relacionamentos.
Culpo a tensão, claro. Apesar do atraso.

Eu não quero mais.


hm. eu já fui de escrever melhor.

terça-feira, agosto 25, 2009

Eu tenho uma mania meio chata de reler coisas que considero 'do passado'.
E-mails, cartas, arquivos e blogs antigos.
Às vezes serve para remoer sentimentos doloridos e bem guarados, às vezes serve para matar uma saudade. Mas na maior parte do tempo, serve para saber do que sou formada.
Eu acredito que é disso, sinceramente. Na verdade, passei a acreditar que é de pequenas conversas que eu sou feita, pelo menos 2/3 do que eu sou. Pequenas ou grandes linhas de pensamento.

O ponto mais estranho, porém, é que tudo é tão fragmentado. Eu normalmente perco as linhas, me falta entender os desenvolvimentos. A dificuldade está sempre em saber como os cantos se ligam.

Disso tudo? Tem tantos faltando.

segunda-feira, agosto 24, 2009

Na semana passada, enquanto eu estava passeando pela minha cidade natal, minha mãe reclamou sobre eu ficar impressionada demais com os filmes que assisto e livros que leio.
Neguei veementemente, disse que sabia muito bem como deixar determinado tempo pré-cronometrado de reflexão, e guardar essas informações meio fundo para apenas serem tiradas quando preciso.

Acontece que hoje eu assisti a um filme que parece ter provado o que ela disse.

Rainer Wenger é um professor que fica responsável por ministrar um curso de uma semana sobre Autocracia a uns alunos do Ensino Médio.
Diante da descrença dos alunos com a possibilidade que um governo ditatorial possui para emergir a qualquer época da humanidade, o professor resolve fazer uma experiência-limite.
Começando com ensino de postura e respiração correta, a experiência toma proporções, conforme passam os dias da semana, que vão além do controle do professor.
O uso de uniformes, a invenção de uma saudação, criação de um nome, de uma logomarca; tudo isso contribui para criar nos alunos a sensação de fazerem parte de um movimento que pode mudar a Alemanha.


Os limites da convivência com o que é diferente, com o que não faz parte da chamada 'A Onda' são testados. Começam ações de violência e exclusão, mais e mais jovens aderem ao movimento.

O filme chega a um final um bocado tenso, o qual eu não pretendo revelar.

'A Onda' é um filme baseado em uma experiência acadêmica real, de 1967, que tomou lugar em uma escola de uma cidade da Califórnia.
O nome do professor é Ron Jones e ele ministrava história.
O filme é bastante fiel à história real [apesar de passar na Alemanha, o que nos dá uma sensação de muito mais proximidade ao Nazismo], que foi publicada em livros e ensaios e é bastante boa para ser lida.

O professor Ron foi preso e proibido de dar aulas em escolas públicas.

O que mais me impressionou foi a facilidade com que um regime autoritário pode emergir a qualquer momento, em qualquer país. Fiquei pensando se o fato de serem alunos, e de eles serem muito mais abertos aos ensinamentos de outra pessoa [neste caso, potencializado pela figura de um professor] tenha tornado mais fácil a criação de um ambiente como aquele.
Ou se é o ser humano que tende a se agrupar e a agarrar o ideal de 'nacionalismo'.
Fica o questionamento sobre a maneira como o professor lidou com as noções de individualismo e sentimento de grupo.

Ao fim, vale a pena e se impressionar. A experiência traz uma abordagem psicológica do totalitarismo, bastante fundamental para entender um outro lado.






Quem quiser ler, clique aqui para ler o ensaio 'The Third Wave', do professor Ron Jones.

James Joyce safadão

Eudescobri que gosto muito de James Joyce.

É bem certo que, um dia na vida e seja lá qual for ele, você vai ouvir falar de James Joyce. Nem que seja saindo da boca de gente que diz que 'Ulysses' só serve para ser usado como apoio de mesa.
Mas todo mundo fica lá idealizando um cara e botando medo nas criança falando que o livro todo tem umas 1200 páginas contando um dia só na vida do Leopold Bloom.

Mas a minha descoberta está bem ligada ao fato que James Joyce tá bem mais dentro de você do que sonha sua vã filosofia. Pois tratem de colocar o cara no chão e aprender que o rapaz escrevia coisas que são para todo mundo entender, seja de que forma for.

E eu posso provar isso.

James Joyce era casado com uma mulher chamada Nora. Antes de eles se casarem, passaram muitos anos separados, vendo-se ocasionalmente como quase todo namoro de 1800 e alguma coisa. E como todo casal da época, eles se correspondiam por cartas. E é aí que James Joyce está bem mais perto de você, jovem com hormônios loucos, do que você imagina.

As cartas de James Joyce para Nora tinham, hm, certo tom erótico. Isso, erótico. Péra, erótico? Nada. Pornográfico mesmo. De baixo calão. Com muito sexo, fluídos corporais e tudo o que tinha direito.


Eu sou é maroto.

São cartas saudosistas de tempos em que, hm, Joyce podia ter sua mulher em seus braços. Ele relembra de momentos que estiveram juntos e deseja momentos futuros.

O interessante é que, deixando o lado pornográfico da coisa, tem muito de James Joyce naquelas cartas. Extremamente bem escritas, o leitor até chega a pensar que elas têm certo bom gosto.

Você pode muito bem começar a ler James Joyce pelas cartas que ele escrevia para sua mulher. Elas não estão publicadas em nenhum livro porque, por algum motivo, os netos têm certa vergonha. Mas você pode encontrá-las neste site aqui.

Dá para, de certa forma, sentir que Joyce era muito mais humano [e mais pervertido] do que as pessoas que nos põem medo em relação a ele dizem.

Depois dessa, ler 'Ulysses' vai ficar muito mais fácil.

quarta-feira, agosto 19, 2009

[para ler ouvindo 'love song' do elton john]


Os passos eram lentos, calmos. Quase arrastados, só não por medo de perder as sandálias.
Todo o mundo era visto pelo chão. Era por ele que ela sabia a vida. Seus pés, o chão e as complicações.

Ela aprendeu a entender os pés, a entender as calçadas, as folhas no chão, o caminhar das pessoas. Sabia de cor quantos passos de sua casa à casa de sua avó. Sabia como eram os desníveis das calçadas, as cores dos ladrilhos, a chuva pingando no chão.

Mas um dia, com um tênis furado, remendado por fita isolante prateada, ele parou na frente dela. Ela, que só sentia e não queria entender os por quês, nem ter que olhar para frente; só sabia ver o momento em que caminhava, só sabia entender o pedaço de chão em que pisava.

Ele a levou por lugares diferentes dos quais ela via. Um pouco de grama, um caminho de tijolos vermelhos, terra batida e caminhos bonitos. Ela se apaixonou e por muito tempo seguiu os passos dele e caminhou lado a lado.

Mas um dia, ele perguntou por que ela não olhava para frente, por que não via o futuro deles. Ela não sabia o que dizer, ela não sabia como não apreciar cada passo, entender cada passo, mergulhar em cada passo. E ele continuava a perguntar. E ela se sentia triste.

E ela cedeu. Neste dia, levantou a cabeça e olhou para frente. E nunca mais enxergou.
Ali, naquele bar a três quarteirões da minha casa em Batatais, fiquei pensando na dimensão tempo. Duas amigas de longa data sentadas comigo em uma mesa com cerveja sendo bebida a uma velocidade bem mais lenta que há três, quatro anos atrás.

A Emília e a Laíza eu conheço muito bem. São grandes amigas minhas, desde épocas em que lançavam filmes em vídeo e vinis eram top.

mas. O que fez tudo isso durar tanto tempo? Era aquilo que eu defendia?; que a sensação de familiaridade, de bem estar, faz com que determinadas pessoas sejam mantidas em nosso círculo de amizades? Que elas se tornam tão reconhecíveis que partir para novas companhias traz aquela sensação de desconforto que só as novidades sabem como nos dar?

Pensei em tudo o que aconteceu. De como eu quebrei meu braço esquerdo para não deixar a Emília bater a cabeça no chão em uma queda de cavalo. Pensei em como o Théo traiu a Laíza comigo, em meados de 2004.

São raras as pessoas que eu deixei ficar na minha vida, ou mesmo que realmente quiseram ficar por aqui. Eu nunca soube, na verdade, manter uma amizade. Deve ser porque elas também nunca souberam muito bem fazê-lo que nos damos tão bem. As nossas regras de relacionamento são mais simples que as dos outros.

Encostei na cadeira e sorri. Pensei no quanto era sortuda com aquelas duas. E resolvi marcar no blog só uma brincadeira para que eu não me esquecesse dessa facilidade que eu tenho lá em Batatais.

domingo, agosto 16, 2009

Eu nasci na época errada, não é possível.

A sensação de ter o cabelo todo errado pra 2009 é o que aparece primeiro quando eu fico irritada com esse assunto.
Logo depois, vem o que predomina no meu acervo musical. Eu até sei o que é Rhianna e Ja Rule. Mas não me peça pra diferenciar o estilo musical de cada cantor de hoje.
O terceiro ponto é tosco-fashionista. Calça baixa pra mim é lixo. E não é por ser gordinha não.

Na verdade, isso dá margem para uma velha inquietação minha: tá acontecendo muita coisa estranha.
Eu fico pensando se vai acontecer o mesmo que aconteceu com os anos 90 para mim. Que agora eu acho No Doubt e Joan Orborne clássicos. E sei muito bem entender o que aconteceu na época, entre meus 3 e 12 anos de idade.
Hm. Então obviamente a resposta é que ficamos perdidos no nosso tempo. Period.
Ou somos nós, os jovens, que vemos tudo de perto e ficamos meio balançados com tudo.
Mas se formos pensar de verdade, tinha tanta gente há 40 anos atrás, bem no Woodstock, que sabia o que estava acontecendo direitinho. Bem que tudo aquilo ia ser projetado pra longe.

Será que em 2020 eu vou olhar para 2000 e compreender o que acontecia? [não que eu vá achar que Rhianna e Ja Rule são clássicos, porque eu mesma bato o pé de verdade para música.] Será que é essa a causa da minha irritação? Que eu, não conseguindo entender, fico puta e odeio essas coisas; escolhendo uma década que eu acho certa para mim de acordo com o estilo de vida que eu escolhi seguir?

Mas, ao fim, eu tenho certeza que, se tivesse vivido meus 21 anos em 70, eu seria exatamente como eu sou hoje. Somando uma leve dose de confusão interna.

terça-feira, agosto 11, 2009

Eu tenho tripla personalidade.
Não, não me enganei pelo fato de serem três personalidades, e não duas. São, são realmente três.
E cada uma não tem uma ocasião correta para aparecer, não. Elas vão e voltam quando bem entendem.

É bem divertido, na verdade. Muita gente considera isso como bipolaridade [tripolaridade? hein?]. Mas eu só acho que é a capacidade de ser mais versátil.
Ahn, se fosse assim, eu seria atriz, e não redatora.

Acho que é isso, então. Vou ser atriz.
Vou atuar no Oficina e correr pelada por aquele corredor.




Ingressos a 10 reais.
Nem todas as pessoas têm o bom gosto de ser decentes.
Fico pensando sobre a quantidade de nãos que as pessoas dizem. Os simples nãos, que vão completar uma sombra bem maior no mundo. Uma ausência de luz quase ensurdecedora.
Cada vez que alguém pede um favor, ou qualquer coisa desde um elástico de cabelo, e a resposta é não, um quilo cai sobre as costas do mundo.
O convívio social seria mais agradáveis se houvesse menos nãos



hunf. e tenho dito.

Brilha, brilha estrelinha

São raros os paulistanos que, quando aparece uma folga, um feriado emendado, ou mesmo qualquer final de semana, não pensa duas vezes antes de colocar as malas no carro e fugir daquele ritmo frenético que o engole em todos os outros dias do ano. Daí, é inevitável vermos sempre aqueles congestionamentos homéricos nas saídas da cidade; Guarujá, Campos do Jordão, Atibaia, todas viram novas mini São Paulo. O paulistano acaba escapando para lugares que já vão ficar cheios de outros paulistanos. E a gente sabe como o pessoal que vem da cidade grande transforma as outras cidades em núcleos que não são tão diferentes dos lugares de onde vêm. A fuga é, na verdade, uma armadilha nem tão inesperada que coloca quem foge num lugar que se torna tão parecido com o local de onde fugiu.

Mas o que acontece é que, como eu disse, são raros os paulistanos que não correm para fora da cidade. O que sobra para São Paulo são finais de semanas mais calmos, quase sem trânsito – bom, São Paulo sem um pouquinho de trânsito não é bem São Paulo –. E a cidade se transforma. Parece que o espírito da correria e do estresse se desfaz junto com a fuga em massa e a paulicéia pode mostrar seus encantos, seus lugares mágicos, segredos bem escondidos e que normalmente estão tão encobertos pela fumaça dura do dia-a-dia, o que faz dela a maior – não no sentido de muito grande – cidade brasileira.

Então, ao invés de fazer as malas e fugir da cidade para outra cidade, por que não fugir da cidade dentro dela mesma? Por que não fugir para outra São Paulo mais encantadora, mais mágica, que você nunca viu e cheia de sensações diferentes?

Por mais que se dito o contrário, é de praxe que o paulistano não conhece bem a cidade em que vive. Claro que sabe melhor do que ninguém se localizar entre as ruas. Mas a pequena Rua Avanhandava fica escondida de seu costumeiro mapa. E os finais de semana mais tranqüilos da cidade são ideais para expandir os conhecimentos de localização do paulistano fugidio.

Localizada entre as ruas Martins Fontes e Martinho Prado, a pequena Rua Avanhandava de 140 metros e comprimento e 6 metros de largura foi recentemente restaurada, transformada em um portal para um mundo diferente, colorido, de dar água na boca e ser música para os ouvidos, onde os pedestres têm prioridade.

A ruela conta com restaurantes, bares, lanchonetes, centros de arte e música, transportando-nos para um mundo de boa gastronomia; onde todos têm acesso à arte, à música, a uma atmosfera diferente, sem correria e sem estresse. Um pequeno pedaço da das boêmias capitais da Europa? Dos boulevards parisienses, londrinos, madrilenos? Não, uma rua com todas as caras dos paulistanos, um pequeno pedaço da alma humana, cheia de luz e das mais diversas e deliciosas sensações.

Restaurantes como o Jeremias, O bom, a Central 22 e os tradicionais estabelecimentos da Famiglia Mancini – que auxiliou fortemente na restauração da rua – são os mais procurados por quem já descobriu a Avanhandava. Feirinhas de artesanato e antiguidades acontecem também com bastante freqüência.

A charmosa Rua Avanhandava é dica fundamental para o paulistano que quer fugir da cidade e mergulhar em um universo paralelo a passos livres, calmos e com tudo o que faz bem para o espírito dentro da própria São Paulo.

O que melhor para o paulistano do que fugir para sua própria história em um final de semana qualquer? Redescobrir o centro, redescobrir a partir de onde a paulicéia desvairadamente cresceu, passar por todas as fantásticas sensações que São Paulo tem para oferecer. E, ao fim, conhecer que é de pequenas maravilhas como a Rua Avanhandava que a Grande Metrópole é feita e sobrevive.





*artigo para a Cubo.

domingo, agosto 02, 2009

Toda vez que eu faço uma entrevista, alguém me pergunta por que eu escolhi fazer Publicidade.
Do alto do meu egocentrimos natural de publicitária, dizia que tinha nascido para a profissão, que era comunicativa, que achava tudo muito divertido.

Mas, para falar a mais pura verdade, eu não acho que tenha uma resposta direta para a pergunta.
Não que eu ache que foi como quem escolhe Administração, por não haver nada mais pontual para escolher ali na ficha de inscrição do vestibular. Só, aqui bem no fundo, eu confesso que às vezes não sei.

Publicidade, para quem está do lado de fora, tem aquele glamour violento, brilhante. Todo mundo é cool, todo mundo é inteligente, todo mundo é criativo e conhece tudo sobre tudo. Para uma garota de 17 anos, até pareceu tudo isso.
Bem dentro do meio, nem é tudo isso, sabe. Virar noites, fazer as vontades de clientes, o clima de briga todo-mundo-passa-por-cima-de-todo-mundo, guerra de egos, premiações pseudo-superiores. A relação é quase de amor e ódio.

Quem é publicitário não tem muito outra vida não. O almoço de família do domingo é tão trocado por horas de trabalho. A noite de sexo com a namorada passa a ser imaginária quando tem aquele anúncio pro dia seguinte. Tudo é tão assim que a gente fica pensando que quem escolhe fazer Publicidade, escolhe como escolhe um amante, um amigo novo, uma coisinha que a gente julga melhor que todas as outras. É quase sempre algo em detrimento de outro.

Como um brinquedo novo. A gente ganha um, todos os outros vão para o fundo do armário. E a gente brinca só com aquela pecinha brilhante, linda, uma novidade. Só que a pecinha é um artigo de hipnose que nunca mais deixa a gente conseguir alcançar com tanta frequência o que está no fundo do armário.

Daí, aprendemos a conviver com ela. E a relação se torna, inevitavelmente, uma relação de amor e ódio, mas gostosa. A gente aprende regras de convívio, aprende a estabelecer relações de troca, a ceder e a receber. A Publicidade passa a ser a nossa vida, nosso amor, as birrinhas, o tédio, o novo, tudojuntomisturado.

No fim, eu acho que posso responder, senhor entrevistador: Eu escolhi a Publicidade porque ela é tudojuntomisturado. Porque ela é o novo, porque ela é o excitante, porque é com ela que a gente vai passar o resto da vida.

Porque ela é melhor que todo o resto. hahahaha




Bom. Pelo menos no começo.