quinta-feira, julho 20, 2006

'São só paredes.'

A minha mãe recebeu uma proposta a respeito da venda da casa daqui de Batatais. Acho que deve tâ-la recebido por gritar a todos os ventos que passeiam por estas bandas coisinhas sobre um desejo de sumir daqui quando todos os seus filhos estiverem instalados em cidades-sede de universidades/faculdades/fundações. Em poucas palavras: no mais tardar, quando Higue entrar em uma universidade, adios buracão [na verdade, ela quer é sair de Batatais quando ele tiver idade o suficiente para frequentar o Ensino Médio]. Eu já estou em São paulo [e a vontade de gritar 'aai, a única filha mais querida do mundo foi embora e eu vivo entre três homens rabugentos e mimados' existe? hohoho]. O Guto, luta por uma vaga em algumas instituições de ensino superior. O Higue? 13 anos e sétima série. Se o Guto passar, mamãe fica sozinha com o mais novo [ahn, julgando que não é de conhecimento de ninguém que meu pai trabalha em cidades vizinhas e só é morador desta casa aos finais de semana].
Contada a historinha, já é explícito que ela não fica por aqui sem 'ter o que fazer'. Claro que há a fazenda. 'Vou alugar esse negócio e morar na fazenda. Daí, o Higue estuda no Objetivo lá de Brodósqui'. Mas hoje, eis que um impávido senhor ultrapassa as barreiras representadas pelo portãozinho da varanda de entrada e diz: 'Quero comprar sua casa'. [cena de menininhas gritando 'ooooooooh', com feições que mostram espanto]. A Senhora Dadá aqui ficou toda animadinha. 'Não aguento mais esse trambolho, esse tamanho de casa com duas pessoas mais um cachorro que parece um rato de tão pequeno. Se ele pagar isso que ele propõe, eu compro tantos apartamentos em Ribeirão Preto, o seu em São Paulo e moro por lá contigo. Além de alugar aqueles de Ribeirão.' E dá-lhe ligações para todas as cidades do mundo em busca de papai. 'Luis, eu vou vender a casa.'

Quando digo que seria injusto com a minha já falecida, porém, constantemente citada e idolatrada, avó Maria [digníssima projetista da minha casa], minha mãe alega que 'são só paredes'. Bom, não passei toda a minha infância aqui, anyway. Mas, são grandes passos. Ainda é chocante receber notícias assim. Claro que não há marquinhas de crescimento na parede, não há vidros quebrados [exceto um dos que existem na porta de entrada, marca de uma chuva torrencial que o quebrou e fez com que usássemos um pedaço de papelão por uma semana no lugar do vidro. ele ainda é diferente dos outros dois.], não há buracos no chão. Mas sim, tem história. Eu sei que são só paredes, mas foram as que abrigaram tudo o que aconteceu conosco enquanto moramos em Batatais. Elas dão a impressão de lugar secreto que guarda tudo o que você precisa para algum renascimento de memórias esquecidas.


E eu ainda não consigo evitar uma frase quando chego em Batatais, a cada vinda de São Paulo: Ai ai, casa.

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